Relação dos métodos educacionais no Brasil com o Método Escoteiro

Por Silvana F. Pereira


Postado em 01/11/2019


Quando se fala em formas de educar sempre vem à mente os métodos utilizados nas instituições educacionais, mas quando se fala em escotismo o que geralmente vem à mente? Este artigo tem como objetivo estabelecer esta  relação entre as metodologias  utilizadas nas escolas e nos grupos escoteiros, visto que a maioria dos pais que procuram integrar seus filhos ao escotismo argumentam querer que eles sejam mais “educados” e adquiram valores.

OS MÉTODOS EDUCACIONAIS

No Brasil são utilizados vários métodos pedagógicos, e é baseado neles que as escolas criam seus currículos e orientam seus planos de aula, que englobam desde a forma de como o conteúdo escolar é transmitido até como os professores devem se relacionar com os alunos. É a partir da escolha do método que a escola determina quais conteúdos irá ministrar, tendo em vista a Base Nacional Curricular Comum – BNCC, como ela irá lecionar estes conteúdos e qual será a forma de avaliar o aprendizado dos alunos.

As linhas pedagógicas mais comuns são as Escolas Construtivista, Freiriana, Montessoriana, Waldorf e a Tradicional.

Escola Construtivista - Nesse método, os principais nomes são Lev Vygotsky e Jean Piaget, o aluno é o protagonista do seu processo de aprendizado. Ou seja, a educação não é uma simples transmissão de conhecimento, ela vai além, tornando-se um processo que dá suporte e permite o aluno criar e experimentar o conhecimento e o aprendizado. Não existe ninguém para dar as respostas, o aluno aprende a aprender. Essa linha pedagógica foi pensada para não se usar avaliações e nem provas. Dado que é um processo que cada aluno constrói o seu próprio conhecimento, logo é único e diverso.

Escola Freiriana - Também conhecida como Educação Libertadora, essa metodologia de ensino propõe o desenvolvimento da visão crítica do aluno por meio das práticas em sala de aula. Dessa forma, o professor deve apresentar os conteúdos para o aluno, mas não como uma verdade absoluta, pois na educação que Paulo Freire defendia o professor e o aluno aprendiam juntos. Nessa pedagogia, o educador deve levar em conta os aspectos culturais, sociais e humanos de cada aluno, para ouvi-lo e entendê-lo melhor, afim de ajudá-lo a compreender e ler o mundo através do conhecimento. Essa linha pedagógica, assim como a construtivista, foi pensada para não se usar avaliações e nem provas.

Escola Montessoriana - Para Maria Montessori, as crianças tem a capacidade de aprenderem sozinhas. Em sua famosa frase “ensina-me a fazer sozinho”, Montessori ressalta a importância dos alunos desenvolveram a iniciativa e independência em seu processo de aprendizagem, e para isso, podem usar seu conhecimento prévio e experiências como meio de construir novos conhecimentos. Nessa abordagem, também chamada de pedagogia científica, as salas são equipadas com diversos materiais e atividades e os alunos podem escolher o que irão fazer em cada dia. O professor tem papel de guia, tirando dúvidas e ajudando os alunos a superar as dificuldades, além de organizar a gradação das atividades para garantir a evolução de cada indivíduo. Desse modo os estudantes se desenvolvem de maneira ativa, criando um senso de responsabilidade pelo próprio aprendizado, exercendo a capacidade de fazer escolhas com independência e autonomia.

Uma das vantagens desse projeto educacional é que os alunos podem se desenvolver cada um no seu ritmo, dentro dos módulos obrigatórios propostos. As classes podem ser organizadas como no método tradicional ou por ciclos, com crianças de idades diferentes. A avaliação pode ser feita a partir dos registros do professor em relação as atividades que o aluno realiza, é comum ter uma monografia  no final do ensino fundamental e do ensino médio. Podem existir provas também, dependendo de como a escola aplica a metodologia.

Escola Waldorf - Baseada nos estudos de Rudolf Steiner, a pedagogia Waldorf visa o desenvolvimento integral da criança como ser humano, não apenas do aspecto intelectual. Dentro dessa metodologia de ensino três aspectos são colocados em foco: o desenvolvimento corporal, psíquico e espiritual, dentro das “fases de desenvolvimento do ser humano” que Steiner denomina de septênios, ciclos de 7 anos. Para desenvolver esses aspectos os alunos contam com um professor de classe que os acompanha durante todo um ciclo, além de aulas com outros professores para cobrir outras partes do currículo. Dentro do currículo há uma presença muito forte de artes, trabalhos manuais, culinária e outros.

Nessa abordagem, a avaliação engloba aspectos vão além do conteúdo. Habilidades sociais, virtudes, interesse e força de vontade são observados pelos professores por meio das atividades diárias. O mais importante para essa pedagogia são as etapas de desenvolvimento do estudante.

Escola Tradicional - No método pedagógico tradicional o professor é a figura central, tido como o detentor do conhecimento, e o aluno é visto com uma “tábula rasa” onde o conhecimento será depositado. Esse é o método mais comum na maioria das escolas, onde há uma alta ênfase no conteúdo. O foco do professor é a transmissão do conhecimento de forma clara para que o aluno aprenda e absorva de forma passiva. Nesse modelo existe a ideia de reprovação, quando os alunos não cumprem com as metas esperadas para o ano vigente.
A avaliação é por meio de lições de casa, trabalhos e provas, que medem a quantidade de conteúdo que foi memorizada/absorvida. Um dos índices de sucesso é a aprovação dos alunos no vestibular.

O MÉTODO ESCOTEIRO

O Método Escoteiro é um sistema de educação não formal, de progressão que tem a intenção de estimular as capacidades e interesses de cada jovem. Isto se dá através de desafios a serem superados, da vivência de aventuras, do incentivo a exploração, a realização de descobertas, a experimentar coisas novas, inventar e desenvolver a capacidade de achar soluções, sempre respeitando individualmente os limites de cada jovem.

Para Dohme (2015),  a característica visionária de Baden Powell, fundador do escotismo, fez com que fossem colocados em prática elementos de aprendizagem plantados por educadores famosos como Rousseau, e Pestalozzi, que influenciaram educadores seus contemporâneos como Montessori, Piaget e Freinet. De fato, para os conhecedores de ambas as obras há grandes semelhanças nos conceitos de Pestalozzi e as bases do Escotismo.

Baden Powell não desenvolveu uma metodologia, escrevia diretamente aos meninos, para que eles pudessem viver o Escotismo. Para os adultos foi escrevendo livros e artigos a medida em que necessitava prover seus seguidores de informações. Conforme Dohme (2015),  Badel Powell deixa seu legado aos adultos que dirigem  escoteiros através do Guia Escoteiro, onde demonstra como ele entende o desenvolvimento do homem tal como Pestalozzi entendia, isto é, de forma integral através de um tríplice aspecto: moral, intelectual e físico.
Baseado no exposto, viu-se que tanto as metodologias educacionais quanto o método escoteiro perseguem um mesmo objetivo, a formação do jovem como indivíduo, promovendo seu intelecto, seu físico e seu moral.

Os diferentes métodos pedagógicos focam em pontos distintos, mas não existe um melhor do que outro. Algumas escolas mesclam características de mais de uma pedagogia ao mesmo tempo. Porém, é importante lembrar que a metodologia de ensino é apenas um dos fatores que compõe a formação do indivíduo. O ideal é analisar se as características do modelo pedagógico adotado na escola se adequam a personalidade e forma de desenvolvimento de cada criança, portanto se faltar alguma desta qualidades, pode-se buscar no método escoteiro, já que participar de uma atividade escoteira não interfere no desenvolvimento escolar.

O importante é acompanhar e auxiliar o desenvolvimento do jovem, principalmente proporcionando a eles atividades em que possam aprender fazendo, estimular a convivência em equipe, realizar atividades progressivas, atraentes e variadas e incentivando seu desenvolvimento pessoal com orientação individual.